12 outubro, 2006

O culto à fertilidade

Cernunnos, o deus-alce, símbolo da fertilidade




É difícil hoje em dia para nós e para a maioria das pessoas saber o que significava a fertilidade para os povos antigos.
Devemos levar em conta diversos fatores como a expectativa de vida menor e a mortalidade infantil maior. Para manter uma tribo ou nação segura, eles precisavam de uma taxa de natalidade maior. Ter muitos filhos era sinônimo de abundância, felicidade e prosperidade. A comparação com as colheitas, sementes filhas da Terra, era absolutamente natural e é aqui onde mora a essência da Bruxaria.
A realização de rituais para a fertilidade não era questão de modismo ou diversão, mas pura necessidade. As pessoas desejavam aquilo com todas as suas forças.



Mas o que significa a fertilidade? Significa vida, em sua forma mais simples e pura. A fertilidade nunca descansa; está sempre se renovando, mudando constantemente, como a própria vida. Não por acaso o tema do sabá de Beltane é a vida em si.
Da mesma forma, o impulso sexual por trás da fertilidade humana é algo profundo e fundamental, uma força absolutamente primitiva e natural a todos os seres humanos. O sexo é encarado como sagrado, pois de fato a vida é sagrada. E, como as bruxas acreditam que "como é em cima, é embaixo" (como é no reino dos deuses, é com os seres humanos), a fertilidade deve ser honrada de todas as formas.

É muito engraçado vermos hoje em dia (e há muitos séculos também) a alta classe dos intelectuais achando o sexo vergonhoso ou desrespeitoso, porém, trata-se de algo primordial. Nossa mãe e nosso pai fizeram sexo com prazer e disso nós nascemos. Assim é na Natureza e em todas as coisas. Não devemos ter vergonha do que sentimos ou de nosso corpo; não existe "o pecado". O que é natural não pode ser nocivo.

Talvez esta tenha sido uma das razões pelas quais o Cristianismo demorou tanto tempo para se instalar como religião oficial na Europa. Os povos do campo estavam muito bem, obrigada, celebrando seus rituais da fertilidade pedindo por filhos e uma boa colheita antes do inverno. A vida deles dependia disso. Não era uma religião nova que os faria mudar todos os seus conceitos que viviam no dia-a-dia há gerações.

Há diversos mitos envolvendo o culto à fertilidade, e por razões óbvias de espaço não colocaremos neste texto, mas aos poucos vamos disponibilizando no site algumas histórias que retratam bem as culturas pagãs antigas e, surpreendentemente para alguns, muitos mitos novos. Os próprios contos de fadas, alguns bem recentes, retratam muito bem tudo isso. É inconsciente e natural.

A idéia principal por trás de um ritual de fertilidade é que o contato com as forças que regem a vida nos traz uma vitalidade renovada. E desse mistério flui um sentimento profundo de felicidade que permeia tantas religiões e tantas danças mágicas, especialmente no que diz respeito às danças circulares e mesmo aos rituais realizados sob nudez das bruxas. Não há maldade ou perversão, apenas Natureza.

O culto à Lua é só um exemplo. A Lua está relacionada à menstruação, às mulheres, à Deusa e, por conseqüência, à fertilidade. Da mesma forma o Sol, que fecunda a Terra com vida, é um símbolo de fertilidade. A vida, portanto (e não poderia ser diferente), gira em torno do culto à Natureza terrena, animal, humana, vegetal, enfim.

Um ritual para fertilidade é a forma mais pura de amor a si mesma, ao seu parceiro (ou parceira), às pessoas e animais que amamos, a Terra, às plantas que colhemos e às flores que vemos desabrochar.
Quando as bruxas hoje em dia realizam tais ritos, elas o fazem com esse espírito e não para desfrutarem de "orgias", como muitos sem conhecimento afirmam por aí.
Se as bruxas quisessem fazer "orgias" bastariam ligar a TV ou ir à esquina mais próxima. A exploração do sexo está em todo o lugar e nós bruxas simplesmente repudiamos isso. O sexo é visto sempre como sagrado; uma troca de energias vital. Difamar o sexo é difamar a própria vida.

Devemos nos perguntar que tipo de lugar tem esses ritos hoje em dia, especialmente porque a maioria de nós mora em cidades de pedra e concreto. A resposta é que a fertilidade não é apenas material, mas intelectual e espiritual. Não colhemos apenas sementes materiais, mas também vemos florescer projetos que trabalhamos com carinho, entre outras coisas.

As bruxas buscam uma paz de espírito através de uma filosofia de vida que abraçam com todas as forças por acreditarem que ali está a sua essência. E a Bruxaria sempre foi e sempre será um culto à fertilidade. As bruxas afirmam a vida, ao invés de reprimi-la. A Bruxaria é simples, assim como é tudo na Natureza, apesar de complicarmos tanto. O sexo é uma das coisas mais fundamentais, instintivas e naturais de todas, o que faz dele um ato mágico muito poderoso, quando compreendido de maneira correta.

Como toda religião, a
Bruxaria também evolui. E a Arte das bruxas é sem dúvida um ofício vivo. As forças criativas não atuam apenas no campo físico, mas na música, nas artes, no trabalho, nos estudos. A vida humana é um deserto sem a fertilidade, seja ela espiritual, física ou intelectual. O culto à fertilidade deve estar tão vivo hoje quanto era tempos atrás.

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